quinta-feira, 9 de julho de 2009


Na segunda metade da década de 1960, o sempre inquieto João Gilberto voltou a se frustrar com os rumos da Bossa Nova. O sucesso havia atraído uma horda de músicos dos EUA que tentavam se aproveitar do fenômeno e acabavam deturpando-o. Segundo João, o estilo ficou tão vulgarizado que sua batida acabou servindo de jingle ¿de tudo quando foi produto lançado no mercado americano¿. João só voltaria a lançar um LP cinco anos depois, quando já estava morando no México (depois de uma temporada na Europa). Em 1971, ele afirmou sobre o disco: ¿Foi sobretudo uma necessidade que tive de provar a mim mesmo, depois dos problemas que tive com a voz e com a mão, que podia voltar a gravar. Mas fazer um disco mesmo, com continuidade, dentro daqueles que fiz no início da minha carreira, isso só no Brasil¿. Mal sabia João o quanto isso demoraria. Aqui, ele só faria alguns shows e especiais na TV, como um para Tupi, ao lado de Caetano Veloso e Gal Costa, em 1971. Nos EUA, ele ainda lançaria três discos. João Gilberto (1973, também conhecido como ¿o de capa branca¿) foi gravado em um estúdio perto do West Side de Manhattan, onde ele e Miúcha moravam. Metade das músicas desse LP (Águas de Março, Eu Vim da Bahia, É Preciso Perdoar, Isaura e Falsa Baiana) seria regravada três anos depois em Stan Getz ¿ The Best of Both Worlds, sucessor de Getz-Gilberto. A intenção original era que Tom Jobim participasse com seu piano, porém não deu certo. E, por fim, em 1977, João fechou esse período no exterior com o lançamento de Amoroso, muito bem recebido pela crítica.¿Quando penso num disco, não é aquele negócio preto redondo, redondinho. Penso, isso sim, que estou cantando para minha gente¿. João Gilberto, em entrevista à Veja, depois de lançar En México: ¿Queria que o público visse ali não o João Gilberto, mas o Brasil. Que eles sentissem, a partir de mim, tudo o que eu trazia de experiências vividas. Queria ser, acima de tudo, naquele momento, um brasileiro¿ João Gilberto, sobre seus shows no exterior na década de 60: ¿Eu me senti como um menino quando cantei aquela música. Ela é tão bonita que eu queria ficar repetindo, repetindo, quase esquecia que estava na televisão¿