terça-feira, 7 de julho de 2009

Vinicius de Moraes - o poeta que mudou a música brasileira



Dos nomes que fizeram parte da Bossa Nova, Vinicius de Moraes foi o cara. Deixou-se levar pela intuição, pela urgência, ou sabe-se lá pelo quê, e num impulso convidou Tom Jobim para ser seu parceiro na peça Orfeu da Conceição, em 1956 ¿ ele com 43 anos e Tom com 29. Tiro no escuro que deu certo. Assim como deu certo com Baden Powell, Carlos Lyra, Pixinguinha, Edu Lobo, Chico Buarque, Toquinho e muitos outros. Antes de dar novos rumos à música brasileira, no entanto, ele mudou o próprio rumo: de erudito a popular; de diplomata a poeta da vida. E como poeta jamais perdeu a diplomacia. Vinicius se multiplicou por ele mesmo muitas vezes. Como diplomata, morou em vários cantos do mundo, teve nove casamentos, quatro filhos, dezenas de parceiros musicais, publicou 13 livros, gravou dezenas de discos, escreveu cerca de 400 poemas, sobreviveu a dois graves acidentes ¿ um de avião, outro de carro ¿ e a duas guerras mundiais. Ao mesmo tempo, foi um homem dividido por ele mesmo: viveu entre o terno e a gravata da diplomacia e a roupa branca e os pés descalços da poesia; entre a euforia da paixão e a tristeza profunda da separação; entre as festas do Itamaraty e as ¿comidinhas de bêbado¿ dos bares cariocas; entre o coro da igreja e o batuque do candomblé; entre os amigos tradicionalistas e os irmãos sambistas; entre a contemplação e a inquietação. Falava inglês, francês, italiano, espanhol, mas escrevia como um poeta mundano. Por tudo isso, Vinicius de Moraes foi único. ¿Ninguém chegou tão perto da vida cotidiana, do prosaico¿, disse o escritor Antonio Callado, no documentário Vinicius, dirigido por Miguel Faria. O que esperar de um homem que convidava os parceiros para compor na banheira? Um homem que, de tão apaixonado, se casou por procuração? Um homem que sentenciou: ¿É preciso não se recusar à vida¿? Como escreveu Carlos Drummond de Andrade, Vinicius é o único poeta brasileiro que viveu como poeta.