terça-feira, 21 de abril de 2009

HISTÓRIA: Tancredo Neves

Tancredo de Almeida Neves (São João del-Rei, 4 de março de 1910 — São Paulo, 21 de abril de 1985) foi um político brasileiro. Em 15 de janeiro de 1985 foi eleito presidente do Brasil pelo Colégio Eleitoral mas adoeceu gravemente as vésperas da posse e morreu sem ter sido empossado. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo exercido o cargo de promotor-público. Foi casado com Risoleta Guimarães Tolentino, com quem teve três filhos. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra. Aécio Neves, atual governador de Minas Gerais, é seu neto.


Carreira como advogado


Filho de Francisco de Paula Neves e Antonina de Almeida Neves, transferiu-se para Belo Horizonte, após concluir os estudos em sua cidade natal e na capital mineira. Ingressou na Faculdade de Direito onde, simpatizante da Aliança Liberal que levou Getúlio Vargas ao poder com a eclosão da Revolução de 1930, deu início à sua atividade política. Filiado ao Partido Progressista não pôde viabilizar sua candidatura a deputado estadual em 1934, mas em 1935 foi eleito vereador em São João del-Rei chegando à presidência da Câmara Municipal. Filiou-se ao Partido Nacionalista Mineiro (PNM) depois de extinto o Partido Progressista. Decretado o Estado Novo em 10 de novembro de 1937, teve extinto o mandato de vereador, o que o fez retornar à advocacia, exercendo por algum tempo a profissão de empresário do setor têxtil.

Político à mineira


Pressionado pela conjuntura internacional ditada pela iminente vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial e cada vez mais suscetível a pressões e contestações internas, Vargas põe em marcha um estratagema de liberalização do regime e com isso um quadro político erigido sob os auspícios democráticos viu nascerem novas agremiações políticas. Assim em 8 de abril de 1945 foi criado o Partido Social Democrático (PSD) que, em Minas Gerais estava sob o controle de Benedito Valadares, empossado governador em 15 de dezembro de 1933 e nomeado interventor estadual em 4 de abril de 1935. A deposição de Getúlio Vargas em 29 de outubro daquele ano abriu caminho para as eleições de 2 de dezembro onde foram escolhidos o Presidente da República e os membros da Assembléia Nacional Constituinte, que promulgaria a nova Carta Magna brasileira em 18 de setembro de 1946 e uma vez em vigor a nova constituição foram realizadas eleições em 19 de janeiro de 1947 para governador de estado, para eleger os demais membros do Congresso Nacional e também os que comporiam os legislativos estaduais. Nesse cenário Tancredo Neves foi eleito deputado estadual sendo designado relator da constituição estadual mineiro e uma vez findos os trabalhos constituintes assumiu a liderança de sua bancada e comandou a oposição ao governo de Milton Campos da União Democrática Nacional (UDN), que havia chegado ao Palácio da Liberdade após uma cisão no PSD mineiro. Em 1950, Tancredo Neves foi eleito deputado federal e viu o aliado Juscelino Kubitschek ser eleito governador ao derrotar o situacionista Gabriel Passos. Uma vez membro da coalizão que reconduziu Getúlio Vargas ao poder em 1950, Tancredo licenciou-se do mandato e exerceu o cargo de Ministro da Justiça a partir de 25 de junho de 1953. Entregou o cargo de ministro quando do suicídio de Getúlio Vargas semanas após o início da crise política que culminou com um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda e resultou na morte do Major da Aeronáutica Rubem Florentino Vaz. Segundo consta nos arquivos da Fundação Getúlio Vargas Tancredo recebeu das mãos do próprio Vargas a carta-testamento que seria divulgada por ocasião da morte do político gaúcho. Fiel à memória do antigo mandatário da nação fez-se opositor do governo de João Café Filho e articulador da candidatura de Juscelino Kubitschek à Presidência da República em 1955, Tancredo Neves não disputou a reeleição para deputado federal em 1954 por não ter se desligado do ministério em tempo hábil, desse modo foi nomeado presidente do Banco de Crédito Real de Minas Gerais pelo governador Clóvis Salgado da Gama, substituto legal de JK quando este renunciou para concorrer à Presidência da República em 31 de janeiro de 1955. No ano seguinte Juscelino Kubitscheck nomeou Tancredo para uma diretoria do Banco do Brasil, cargo que deixou em 1958 ao ser nomeado Secretário de Fazenda do governo de Bias Fortes, fato que o impediu de disputar as eleições legislativas daquele ano. Em 1960 foi derrotado por Magalhães Pinto na disputa pelo governo de Minas Gerais. Pouco mais de um mês após a eleição foi nomeado presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) precursor do atual BNDES, sendo demitido nos primeiros meses do governo Jânio Quadros.

A doença e a morte

Tancredo havia se submetido a uma agenda de campanha bastante extenuante, articulando apoios do Congresso Nacional e dos governadores estaduais e viajando ao exterior na qualidade de presidente eleito da República. Mas também vinha sofrendo fortes dores no estômago, durante os dias que antecederam a posse. Aconselhado por médicos a procurar tratamento, teria dito: "Façam de mim o que quiserem - depois da posse". Tancredo temia que os militares mais reacionários se recusassem a passar o poder ao vice-presidente. Porém, a sua saúde não resistiu e, na véspera da posse (14 de março de 1985), adoeceu com fortes dores abdominais sequenciais durante uma cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco. Foi às pressas internado no Hospital de Base de Brasília. José Sarney assumiu a Presidência em 15 de março, aguardando o reestabelecimento de Tancredo. Mas, devido às complicações cirúrgicas ocorridas, o estado de saúde se agravou, e teve de ser transferido em 26 de março para o Hospital das Clínicas de São Paulo. Durante todo o período em que ficou internado, Tancredo sofreu sete cirurgias. No entanto, em 21 de abril (na mesma data da morte de Tiradentes), Tancredo faleceu vítima de infecção generalizada, aos 75 anos. A morte de Tancredo foi tristemente anunciada pelo porta-voz, Antônio Britto. Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos [...].

— Antônio Britto, porta-voz oficial - 1985


Houve grande comoção nacional, especialmente porque Tancredo Neves seria o primeiro presidente civil após o Golpe de 1964. O Brasil, que acompanhara tenso e comovido a agonia do político mineiro, promoveu um dos maiores funerais da história nacional. Calculou-se na época que, entre São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e São João del-Rei, mais de dois milhões de pessoas viram passar o esquife. Coração de Estudante, uma canção do cantor mineiro Milton Nascimento, marcou o episódio na memória nacional. O epitáfio que o presidente eleito previra certa vez numa roda de amigos, em conversa no Senado, não chegou a ser gravado na lápide, em São João del-Rei: "Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves". Em Março de 2008, a sepultura de Tancredo foi violada, e a peça de mármore da parte superior do túmulo foi quebrada.

Confira a noticia que abalou o Brasil na integra pelo Jornal Nacional em 1985